Cálculos renais:
Explicando a doença e o tratamento
Qual a chance de uma pessoa ter cálculo renal?
O cálculo renal representa uma das doenças mais comuns em urologia. Estima-se que até 15% das pessoas terão a doença ao longo da vida. Entre aqueles pacientes que tem o primeiro episódio de cólica renal, metade dos casos apresentaram um novo episódio em 10 anos. Destes, 10% se tornam formadores crônicos.
Quem tem maior risco da doença?
O principal fator de risco é a falta de líquidos na alimentação, principalmente água. Os cálculos renais são ligeiramente mais comuns em homens, entre 30 e 60 anos. Outros fatores importantes são doenças metabólicas como hipertensão, diabetes e obesidade, ou uso de algumas medicações (diuréticos, corticoides e medicações para o HIV). Alguns defeitos congênitos na anatomia renal ( estenose de JUP ou rim em ferradura) se associam a nefrolitíase ( cálculo renal) em 20% dos casos.
Como é formado o cálculo renal?
Na urina, estão presentes alguns tipos de sal, que normalmente encontram-se dissolvidos. Quando a concentração desses sais se eleva e atinge um determinado valor ( coeficiente de saturação), a urina atinge o estado de superssaturação. Normalmente, as soluções superssaturadas não conseguem dissolver nenhuma quantidade adicional de sal. Porém, em nosso corpo, existe a produção de substâncias “protetoras”, que inibem a cristalização de sais, as mais importantes são o citrato, magnésio e glicoproteínas. O que ocorre em nosso corpo, diariamente, é um balanço entre os sais e esses fatores protetores. Se, por algum motivo, esse balanço é perdido ( excesso de sais ou falta de fatores protetores), os cristais de sal se precipitam na forma de cálculos.
Os cálculos são formados por que material?
80% dos cálculos renais são formados por cálcio. O cálcio é absorvido principalmente no intestino delgado (90%), e, para sua absorção, alguns fatores são importantes, como exposição solar, vitamina D e alguns hormônios (PTH – paratormônio). Os pacientes que apresentam cálcio aumentado na urina, condição denominada hipercalciúria, podem ter uma das três condições: aumento na absorção (absortiva), diminuição na reabsorção renal (renal) ou tumores benignos nas paratireoides (reabsortiva).
Como é feito o diagnóstico?
A maioria dos casos, hoje em dia, são achados incidentais de exames de imagem, solicitados por diferentes médicos. Os principais exames são o ultrassom e a tomografia computadorizada.
O Ultrassom geralmente é o primeiro exame solicitado devido a maior facilidade de acesso e disponibilidade nos hospitais, mas apresenta restrições e dificulta a visualização de cálculos pequenos, principalmente no ureter ( canal da urina que une o rim à bexiga), em pacientes obesos. É indicado principalmente para crianças e gestantes por não se utilizar radiação.
A Tomografia computadorizada é considerada o melhor exame para detecção de cálculos renais. Tem uma taxa de acerto acima de 95% e não necessita de contraste na grande maioria das vezes.
Quais os sintomas mais comuns?
Os cálculos renais, quando migram para o canal excretor, especialmente em algumas regiões mais estreitas, podem obstruir o fluxo de urina e causar uma certa dilatação, causando a famosa “cólica renal”. É caracterizada por uma dor na região lombar, logo abaixo da costela, tipo cólica, muito forte, que pode irradiar para a região da virilha. O paciente pode notar também a presença de sangue na urina e o aumento da frequência urinária.
Caso ocorra febre ou calafrios, pode haver uma infecção renal associada, o que torna o quadro mais grave e exige uma atenção especial.
Quando operar?
A principal indicação cirúrgica na prática clínica é a dor que não melhora com a medicação, o que reflete que o cálculo não conseguiu ser eliminado pelo organismo. A chance de eliminação é inversamente proporcional ao tamanho do cálculo. Geralmente, cálculos acima de 7 mm apresentam uma taxa de eliminação menor ( 25-50%) e têm mais chances da necessidade de cirurgia.
Em algumas situações, não é necessário esperar a presença de dor para operar. São casos em que a simples presença do cálculo representa um risco potencial para a saúde do rim: cálculos nos dois lados, cálculo em rim único ou em pacientes transplantados.
Existe tratamento preventivo?
Costumo dizer que o papel do urologista não termina com a cirurgia. É importante nos atentarmos aos hábitos alimentares e de vida que aumentam o risco de cálculos.
O paciente portador de cálculo deve praticar atividade física e se concentrar em perder peso, além de controlar outros problemas de saúde como hipertensão e diabetes.
Em relação a alimentação, várias medidas podem ser tomadas:
- Ingerir líquido em abundância
- Aumentar a ingestão de frutas cítricas ( laranja, limão)
- Evitar a ingestão de muito sal
- Consumir muitas frutas e verduras e preferir carnes brancas ( evitar excesso de carne vermelha).
- Consumo moderado de leites e laticínios ( não exagerar e nem retirar da dieta).
- Evitar alimentos ricos em oxalato: espinafre, amendoim, chás e refrigerantes a base de cola, cacau.
O que é estudo metabólico?
Entre os pacientes com maior chance de se tornarem formadores crônicos de cálculo é importante avaliarmos fatores no sangue e na urina, que podem estar contribuindo para um desbalanço metabólico e a formação de cristal de sais na urina. Normalmente, pesquisamos esses fatores em pacientes com cálculo na infância, cálculo bilateral, recorrência dos episódios ou presença de outros distúrbios metabólicos. Nesses casos, pode ser útil o uso de algumas medicações, que podem prevenir episódios futuros.